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sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Mais um pedaço da história

O livro 1822, diferentemente da obra anterior de Laurentino Gomes, não conduz a história pela via temporal. Em lugar disso, trata a independência do Brasil a partir das principais personagens e das passagens mais pitorescas que envolveram o evento. Nem por isso é inferior ou menos delicioso de ler que o antecessor. Muito pelo contrário, esta forma distinta de conduzir a narrativa traz um sabor todo especial para quem tem interesse nesta importante etapa da construção do nosso país.

O maior mérito do livro é o de desfazer alguns mitos, começando com as condições e o ambiente em que ocorreu a proclamação da independência. A primeira informação é a de que no fatídico dia 7 de setembro, a situação intestinal do futuro imperador era absolutamente desconfortável, o que o obrigava a interromper, sistematicamente, a viagem de Santos a São Paulo, para aliviar-se no denso matagal que cobria as margens da estrada. Além disso, por uma questão de conforto, D. Pedro montava uma mula, nem de longe parecida com o exuberante cavalo que Pedro Américo pintou no famoso quadro Independência ou morte, 50 anos depois.


Outro mito desfeito pelo livro é o de que a independência foi um movimento pacífico. Na verdade, o que Laurentino mostra é que muita gente morreu, tanto do lado português quanto do brasileiro, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, onde algumas batalhas bastante sangrentas foram travadas.

Apesar da personagem principal, evidentemente, ser o imperador, o livro dedica capítulos a outras importantes figuras como a princesa Leopoldina, José Bonifácio, o Chalaça e a Marquesa de Santos. E trata de questões emblemáticas como a questão do Dia do Fico, da constituinte e da influência da maçonaria na independência.

Por fim, mostra como o imperador, apesar de um homem iletrado, quase bronco, teve habilidade política para conseguir apoios, principalmente no Nordeste, onde dominavam os poderosos senhores de engenho de açúcar, comprometendo-se com eles de que não iria acabar com a escravidão, apesar de ser, tanto ele quanto Bonifácio, convictos abolicionistas.

Apesar de não ser historiador, Laurentino Gomes trata a história com muita honestidade, pesquisando incansavelmente os dados, que, aliada à qualidade do texto, proporciona aos aficionados por história, como eu, uma leitura sempre prazerosa.

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